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  • Pedro Teixeira da Mota

Das bibliotecas e livros e seus efeitos anímicos


As bibliotecas das pessoas e dos escritores permitem deduzir afinidades e gostos, influências e inspirações; todavia, a menos que haja anotações e referências, não saberemos bem o que foi lido e apreciado, repelido ou assimilado.

É rara a casa que não tenha a sua estante de livros, poucas as pessoas que não recorrem aos livros para aprender, comungar ou evadirem-se. E se houve escritores que tiveram poucos livros, ou que leram com dificuldade em bibliotecas públicas ou de outros, muitos há que se viram rodeados de boas companhias, podendo navegar em diferentes cursos psico-energéticos e atingir certas intuições, compreensões e visões novas, originais, que acabaram por se incorporar nas suas almas e escritos e eventualmente em quem os ler…

Assim, cada casa, cada pessoa deveria ter uma razoável biblioteca para a evolução pessoal sua e da Humanidade, ainda que, nos tempos modernos, os computadores e a internet sejam por vários modos, nomeadamente por possuírem já descarregados ou reproduzidos milhares de livros, excelentes bibliotecas globais, ainda que virtuais e logo com certas limitações…

Em verdade, os livros, com todas as suas sutis particularidades, desde os autores aos assuntos, das datações às dedicatórias, das encadernações e ilustrações às anotações ou marginália, do tato ao cheiro do papel, são preciosos companheiros para quem quer aprofundar os mistérios e maravilhas do universo e da humanidade e, particularmente, para os estudantes, pensadores, escritores, historiadores, investigadores, criadores, comunicadores.

Todos nós sabemos quanto podemos receber psico-somaticamente ao manusear e ler com atenção, gratidão e amor qualquer obra que a sabedoria dos séculos nos lega, ou nos permite aceder, e com ela viajar no tempo e nos mundos psico-espirituais nos quais tantas riquezas há para suprir as necessidades da Humanidade, ainda tão mergulhada na ignorância, na violência, no egoísmo, no sofrimento, ou manipulada para tal por forças anti-culturais, anti-libertadoras...

Podemos dizer então que cada livraria ou biblioteca, ou livro é uma mezinha, um medicamento para harmonizar e curar, um fermento de transformações, uma semente de novas manifestações luminosas e benéficas, uma defesa face à invasão manipulante e massificante que nos rodeia...

O livro no seu suporte de papel, pergaminho ou papiro, pela sua durabilidade e pela sua proximidade e intimidade, será sempre então um dos melhores instrumentos de harmonização e elevação humana e como tal o presente ideal que as pessoas oferecem e acolhem, lêem e anotam, criticam ou amam.

Quando entramos na casa de alguém muitas vezes a nossa primeira impulsão é ver as obras contidas nas estantes, o que essa pessoa leu ou mostra, e a partir até de uma mera vista de olhos (se for de conhecedores) poderemos intuir algumas das características das pessoas que os juntaram, leram, possuíram, amaram...

Constituirmos a nossa própria biblioteca, e saber ordená-la, e ter mesmo em destaque ou mais fácil acesso as obras que mais nos tocam ou com as quais mais trabalhamos, ou os autores com quem mais sintonizamos, é então importante, construindo-se assim ilhas valiosas coesas no mundo sutil da Grande Biblioteca Mundial, às quais podemos até convidar a desembarcarem pessoas amigas a fim de desfrutarem da sabedoria e dos prazeres que tais fontes vivas nos transmitem.

Todos sabemos como algumas bibliotecas se transformaram em quase ilhas utópicas, até no sentido que pela sua singularidade, beleza e raridade não podem ser facilmente acedidas, reforçando-se assim a sua aura, a que hoje as imagens livres virtuais na Web ainda mais realçam, ainda que desvendando-a incompletamente, sem a verdadeira energia do local e dos livros palpitantes ao vivo...

A Biblioteca de Mafra, a da Universidade de Coimbra, a da Academia de Ciências de Lisboa, a Vaticana, a de Paris, a do Escorial, e outras famosas, serão algumas das mais notáveis. Mas não devemos menosprezar as apenas nascidas da bibliofilia de alguma alma mais entusiasta, outras nascidas de legados post-mortem, destacando-se nestas as que tendo pertencido a escritores ou investigadores, e não foram dispersas em leilões ou passadas a diferentes instituições, conservam a sua autonomia, diríamos mesmo a sua individualidade, especialmente quando se mantêm no local onde sempre estiveram, rodeadas da memória sutil dos momentos em que as mãos do escritor ou dos seus amigos manusearam os livros, dialogando-o com eles e de mais vida e alegria os inundando...

Não há ainda máquinas digitais que consigam medir a intensidade vibratória que cada livro de uma biblioteca ganhou pela passagem nas mãos, pela leitura, pelas anotações, pelas trocas psico-energéticas desencadeadas a partir do tabuleiro de xadrez da impressão invertido na cabeça das pessoas e sentido e compreendido na alma em compreensões, intensificações e iluminações…

Alguns de nós, todavia, já terão certamente feito uma contemplação por momentos de uma estante a certa distância antes de se aproximarem e acolherem o livro que lhes pareceu mais vibrar ou os chamar.

Certamente quando temos seis ou sete prateleiras à nossa frente deveremos escolher uma e depois até ir passando os olhos pelas lombada dos livros vendo-os a vibrarem e tentando discernir qual é o mais palpitante e tremeluzente que se quer dar às nossas mãos, para depois identificarmos quem o escreveu ou mesmo o anotou e quer diálogos, continuadores, e logo mais luz e amor no planeta.

Talvez o melhor ainda seja depois dessa passagem ou entrada dos olhos-mente num um-a-um, ficarmos numa percepção desfocada de todos e abrir mais o coração e tentar sentir qual é o que mais nos envia os seus raios, qual é o que mais nos impacta invisivelmente e nos quer fazê-lo arrancar do seu pouso à sombra, quem sabe se já longo, e trazê-lo a mais luz solar e amorosa que o ambiente e os nossos olhos, almas e mãos nele introduzem, deles acolhendo tantas potencialidades "suaves, deliciosas, exultantes", três palavras que eu retiro agora da obra que me atraiu de uma estante, as Anotações críticas ao Novo Testamento síriaco, por Egidio Gutbirii, de 1706, impressas em Hamburgo. Mas vendo melhor o livro, e temos um belo exemplo da riqueza dos livros, da sua capacidade de serem espelhos do passado para o futuro, dou-me conta que a obra tem outro frontispício, começando portanto tanto no fim como no princípio do volume, no lado final, se o manusearmos da esquerda para a direita, surgindo o começo do Novo Testamento em síriaco e latim.

Os livros são então boas novas, trazendo sabedoria que se acrescenta a nossa, e em certos casos, os mais frequentes, os livros sendo já escritos sobre outros livros, introduzem-nos numa cadeia de elos de sabedoria quase infinita, adentrando-nos no vasto campo bibliográfico mundial.

E, assim, sobre a informação e ambiente passado que alguém num presente trabalhou, recriou, descobriu e passou ao futuro, nós agora, os leitores que de novo o retomamos, reatualizamo-lo de um modo ou outro mais luminoso neste presente e para um futuro bastante perene…

E tal circulação de saber, energia e graça realiza-se seja pelo que sentimos, anotamos, mencionamos, ou mesmo aprofundaremos e escreveremos já posteriormente e independentemente, cada livro do passado sendo como uma semente lançada de uma planta madura e estática mas que se multiplica e vai renascer em outros espaçoa e tempos e de novo dar cores e perfumes, ideias e impulsões.

Realcemos as palavras e estados de alma recolhidos há pouco nas três palavras, a suavidade, a elevação e a delícia.

Possam os livros intensificar tais efeitos em nós e gerar frutos de vida eterna, ou seja, que iluminem mais as pessoas, as façam reintegrar-se harmoniosamente neste planeta, sistema solar e humanidade em história e evolução, de modo a que levemos o que se leu e amou em nós no corpo espiritual ou de glória, esse com o qual avançamos mais ou menos conscientes, aqui e aquém, rumo a melhores comunhões seja com os outros seja com Divindade, na Unidade amorosa, suave, deliciosa, elevante.

Pedro Teixeira da Mota é escritor e mora em Lisboa

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