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O dia mais curto do ano

Atualizado: 23 de jun.


Vinte de junho de 2025, sexta-feira.

Solstício de Inverno para o hemisfério sul, de verão para o norte.

O dia mais curto do ano no Brasil.

Pessoas e histórias compartilhadas do cotidiano, planos, expectativas, percepções sobre o mundo e a vida.


O que todo mundo quer, é paz!


Nada como um bom pós feriado de descanso, já que eu não tenho que trabalhar, isso é muito bom, rs.


Poder acordar na hora que se quer, abrir a porta balcão, ver sol brilhando e esquentar as canelas.


Tomei café da manhã na padaria do bairro sem pressa, embora já quase na hora do almoço, rsrs.


Conseguindo ouvir o som dos latidos de cachorros e o vento soprando bem de leve trazendo um friozinho embora o sol esteja presente.


E meu pensamento: acho que eu vou chamar o Gabriel para dar uma volta de bicicleta... pensando em ir para academia mas tô sem coragem... coçando a boca, que tem hoje, sexta-feira?


Caramba eu preciso tornar real os meus anseios musicais e lançar minha carreira solo...


Acho que vou organizar meus discos de vinil...


Acho que no final das contas o que todo mundo quer, é paz!



Fernando Ripol

Morro Grande

São Paulo, SP






Não se percam do belo


Acordar. Checar notícias. Preparar a primeira refeição.


Rever o planejamento de aulas enquanto como. Desejar não ser parte da engrenagem.


Passo um batom vermelho antes das 7h, só pra não esquecer que não me pareço em nada com o cinza-militar da escola onde vou passar as próximas dez horas do dia.


Escolho minha melhor versão possível para o dia — e sigo.


Mesmo com toda a humanidade ruindo ao redor, e sentindo no corpo as dores de tantos, alguns dos meus alunos ainda precisam muito de mim. E eu, mais ainda deles: por um abraço, uma piada ruim, um “está tudo bem” — mesmo quando não está.


Digo a eles o que eu mesma preciso ouvir: não se percam do belo.


Um cumprimento sincero de um desconhecido.


Um animalzinho dormindo relaxado.


Uma florzinha de mato que, de tão pequena, quase ninguém vê.


Um elogio genuíno.


Esse é o combustível da vida.




Virgínia Torres 

Marabá, Pará 







Não foi como eu planejei


Minha sexta não foi como eu planejei. Ontem fechei dois trampos bons nas reuniões, então a faxina do feriado ficou pra depois.


Pai solo, meu filho, Riquelme, foi pra casa da mãe e eu ia aproveitar pra organizar tudo, mas o corre virou estudo.


Fechei um trampo de identidade visual pra um novo movimento e a faxina virou pesquisa, de cor, tipografia e logo, pra surpreender na entrega.


O almoço? Triste, na moral: dieta, acabou o frango, foi de novo no ovo cozido.


De tarde, revisei a arte do Dia do Vigilante pro sindicato, onde cuido das redes, fiz texto, aprovaram de primeira — coisa rara. Ainda postei o flyer da festa do movimento negro e um chamado pro Jornal Empoderado.


Depois, relaxei: terminei Supernatural (pela milésima vez), escrevi um roteiro pro Tik Tok, já que essa semana dois vídeos meus deram bom, vou aproveitar.


Agora, acender uma vela de firmeza, mente leve e bora descansar. Fui.



Solano

Favela da XV 

Jandira, SP






Dia comum é o melhor dia


Despertador tocou às oito e vinte e um. Nunca gostei de números exatos e sempre preferi os ímpares.


Dia vinte, vinte e um, em um mês seis e ano vinte e cinco. Inverno ou outono ainda? Temperatura quatorze graus, mas vou anunciar quinze. Toalete, banho e alongamentos primários.


Clientela chegando por volta das onze horas. Hoje talvez cinco horas de locação das salas. Sim, enquanto a primavera não chega, alugo salas de atendimento para psicólogos e outros terapeutas do corpo e alma. Tem sido um outro eu. Isso não é ruim. É como usar um tipo de roupa de estilo diferente. Agora uso estampas e cores claras.


Quase nunca tomo café ao acordar e nem de manhã. Sempre um ou dois copos de água em temperatura ambiente.


Orações budistas por cinco minutos e olho pro céu quase todo azul e branco. Procuro por poesia e aquela paz que somente se tem nas sextas-feiras ou sábados cedinho.


É bom ter aqui e ali minutos poéticos de um outro eu que veste novas capas.


Campainha toca. Coloco música. Hoje jazz.


Reparo que flores branquinhas e folhas pequenas caem de uma trepadeira que faz sombra aqui e ali.


Onze e treze agora. Vontade de tomar café…




Fábio Takahashi 

São José do Rio Preto, SP






Um pouco de luz


Hoje acordei e, como em tantos outros dias, me senti perdida — mesmo cercada de tarefas e rotinas.


Enquanto organizo minha vida, penso nos escombros que a guerra espalha pelo mundo, destruindo sonhos e futuros.


Meu aniversário se aproxima, e a expectativa de alegria só revela o vazio que insiste em permanecer.


As velas não apagam a sombra que carrego, e os parabéns soam como eco de algo que não consigo sentir.


Talvez a tristeza seja um reflexo do caos lá fora, ou apenas um silêncio que habita em mim.


Busco sentido no cotidiano, mas ele escorre entre os dedos.


A guerra dentro e fora de mim não tem fronteiras claras.


E assim, sigo: entre obrigações e desesperanças, tentando encontrar um pouco de luz no meio dos destroços.




Laiza Leal

Brasília, Distrito Federal 







Escutar e brincar com uma criança


É uma Roda Viva o que a gente vive. De fazer inveja a Sísifo.


Uma luta desigual, extenuante, contra uma corrente cada vez mais pesada, de elos que parecem inquebráveis:

racismo,

homofobia,

misoginia,

destruição da natureza,

intolerância,

ignorância,

cegueira religiosa,

opressão aos mais humildes,

o lucro e a vantagem como objetivos,

a submissão do mais fraco ao mais forte.


Mas a força se renova a cada dia, ao olhar, escutar e brincar com uma criança.




Eduardo Canhizares

Barretos, São Paulo 








A vida passa e se faz num todo


Minha cabeça de geógrafo despertou pela manhã com a informação de que seria o dia mais curto do ano. O dia do “sol parado”, o popular solstício de inverno no sul planetário.


A menor quantidade de luz solar pode não significar muito numa metrópole repleta de luzes artificiais, que mal me permite uma experiência genuína com a escuridão, mas, de qualquer maneira, possibilitou uma reflexão sobre a passagem do tempo.


As expectativas eram as melhores para meu dia. Meu plano: realizar o trabalho pela manhã na escola, o lazer pela tarde no Pico do Jaraguá, e o descanso pela noite em casa.


Embora eu tenha racionalizado e ordenado as tarefas, me pergunto se essas esferas da vida podem ser mesmo separáveis pelos minutos dedicados a cada uma delas ou pela natureza de suas funções.


Cada vez mais tenho a convicção de que não podem.


A vida passa e se faz num todo.


Cabe lembrar a sabedoria do mestre Ailton Krenak: A vida não é útil!




Professor Delcio

Freguesia do Ó, São Paulo, SP







Breakfast in America 


Diferente do que fiz nos últimos doze anos, tomei café em casa, assim tem sido desde fevereiro.


Hoje tenho duas casas para fazer faxina. Voltei para esse trabalho desde a posse do novo presidente.


O trabalho de anos como tutora e reforço escolar agora parece uma coisa distante. As famílias daqui não querem confusão com a fiscalização e não contratam mais imigrantes.


Bem, ainda tenho a faxina, mesmo com os donos das casas aproveitando da situação e pagando muito menos.


Não tenho falado com meu filho que está noutro estado ao norte, não tenho falado com brasileiros ou latinos que conheci aqui, como antes fazia todos os dias.


Todos estão aterrorizados com medo da deportação ou pior, da prisão.


Nem tenho falado com a minha família no Brasil. Dizem que estão revirando todos os aplicativos de mensagens privados.


O passeio de fim de tarde pelas alamedas após o trabalho, as idas ao cinema e aos museus também acabaram.


Hoje aqui começa o verão. Sempre gostei de comemorar a chegada das estações, aqui e no Brasil.


Eu espero e rezo.


Estava marcada uma definição para setembro sobre minha cidadania definitiva.


Cancelaram.


Mas eu rezo.



Nome Ocultado

Brasileira num estado do Cinturão do Sol,

Estados Unidos 






Véspera do aniversário


Dia 20 de junho de 2025, sexta-feira, véspera do meu aniversário e uma semana bastante intensa nos mais diversos aspectos estava se findando.


A morte é realidade ao longe nas terras de Gaza, e por aqui há alguns dias faleceu minha ex-sogra e avó materna dos meus filhos.


Seja lá ou cá, reflito sobre a efemeridade da vida e a minha existência enquanto ser humano (já com dúvidas nessa espécie).


Na arte é que busco a todo custo produzir para alívio das minhas próprias angústias e, quem sabe, das aflições de outrem.


Estaria eu sendo dramático ou realista?


Talvez nada disso.


De forma lúcida, lúdica e módica vejo o mundo pelas lentes das câmeras que empunho, tal uma arma que não dispara balas, mas que absorve luz e “metamorfa” imageticamente meus devaneios.




Zero

Londrina, Paraná 






A placa de entrada


Dia 20 foi um dia sem ponto biométrico.


Sem o rigor do relógio ditando a hora do trabalho e do almoço.


Aproveitei para ver a mãe.


Tomamos café sem pressa e fomos a Penápolis num parque que foi reformado.


Na placa da entrada um texto fazendo referência à fundação da cidade, destaque para Maria Chica, uma das fundadoras.


O dia se foi e ficou claro mais um ato de apagamento dos povos originários.




Luciana F. Vidal

Avanhandava, SP







O café coando cria desenhos novos


Vi o feed do genocídio.


Sei que devia saber as informações do genocídio só depois do café, mas ainda não consegui isso.


O café coando cria desenhos novos a cada dia. Cem reais o quilo de café básico.


Gaza sem internet. Mais um assassinato numa terra indígena no Brasil.


A velha mídia diz que o Irã é um perigo para a paz da humanidade, como disseram do Iraque, do Afeganistão, da Líbia, do Vietnã.


Previsão do tempo 10 graus ou 40.


Petróleo na foz, ferrogrão, hidrovia da morte.


O cheiro de alguma floresta queimando logo cedo.


Hoje tem água na torneira, “uma sorte”.


Trabalhar com o que se ama faz você trabalhar todos os dias, todas as horas do dia e eu me lembro bem disto.


Seis horas, a hora da Ave-Maria, uma hora santa para todos que são de Fé.


Me lembro do papagaio que aparecia no muro por volta das seis da tarde, falava pouco, sabia gritar “gol” e algo que parecia ser “Vai Corinthians".


Ele repetia no fim de tarde todo dia para mim: “tomar uma, tomar uma”.


Morreu do coração após um tapa da sua dona.


Sei que haverá futuro.




Walter Antunes 

Inocência, Mato Grosso do Sul 







Tudo é muito claro, tudo é meio confuso


Uma reorganização da rotina, da vida cotidiana, do trabalho e da vida pessoal.


Novos pensamentos, talvez novas possibilidades profissionais e novos desafios.


Então, muita expectativa e preocupação.


Talvez a palavra do momento seja ansiedade ou talvez seja só reorganização. Ou, quando a gente dá um nome para as coisas, redefinição.


Atualmente estou numa fase de autorreflexão que automaticamente me leva a ter novas definições ou redefinições de mim mesma e do meu autoconhecimento.


Então na fase dessa jornada, ao mesmo tempo que tudo é muito claro, é tudo meio confuso.


Parece que as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar, o que gera uma expectativa misturada com ansiedade, um pouco de medo, mas ao mesmo tempo leveza e paz.


Nessa sexta-feira dia 20 eu tive muita ansiedade, foi um dia difícil aqui.




Janis Narevicius 

Orleans, França







Reconectar com a natureza e com a poesia, cantando as coisas do porão


Sexta-feira, 20 de junho de 2025, interior de Minas Gerais.


Tentativa de se desligar do dito mundo de facilidades que escraviza e adoece as pessoas.


Apesar de todo o cenário que se desenha ser desanimador, outra tentativa de manter a sanidade.


Olhar o céu, ver estrelas, observar o que não pode ser observado quando se está em uma cidade grande.


Reconectar com a natureza e com a poesia.


Tentar se encontrar em meio a tantos desencontros.


O que poderia ter sido, o que é e o que será também são questões, que fogem ao meu controle.


Outras preocupações insistem em aparecer, o novo álbum e tudo o que o envolve…


Mas poxa vida, vim me desligar e estou aqui com preocupações.


Um povo sendo dizimado, alta de juros, um parlamento feudal…


Sem motivos para festa, sem rir à toa.


Porém, tento seguir com a mente positiva, com a voz e movimentos ativos e assertivos, mas sem ilusão, conhecendo o terreno onde piso, cantando as coisas do porão.




Marcelo Filho

São João Batista do Glória, Minas Gerais 







O vendedor de bombons


O vendedor de bombons quer ser policial quando crescer.


Assim vai poder matar gente.


Ele sempre sonhou em matar as pessoas por dois motivos: para fazer justiça e porque deve ser boa a sensação de matar alguém.


O menino tem 12 anos, estuda no colégio militar de tempo integral e vende bombons à noite, há quase dez anos.


A matemática que ele estuda é diferente da que ele usa, por isso reprovou na matéria.


Não gosta do colégio militar porque tem que cortar o cabelo sempre.


Os pais não foram à escola, então não sabem como é difícil.


A mãe não o transfere para outro colégio porque já gastou muito com o uniforme.


O vendedor de bombons disse que sabe que policial pode matar e que não vai preso.


Ele conhece alguns assim.


Em 2025 o vendedor de bombons sonha com a guerra como o meu avô há cem anos, e como todos os meninos do mundo.


O vendedor de bombons detesta o mundo.




Luama Socio

Araguaia, Tocantins








Resistindo ao logro, infâmia e violência de Estado


Somente hoje o Sol deu o ar de sua graça, já estava com saudade de vê-lo.


O nível do Guaíba não para de subir, pois praticamente todas as Bacias Hidrográficas que o alimentam foram e estão sobrecarregadas .


POA com áreas alagadas, Arquipélago, Humaitá e Sarandi, bem como a Grande Porto Alegre, Canoas, Eldorado, não ainda na escala de 2024 e impactos muito severos no Interior.


A União, Estado e Municípios indutores da Tragédia em maio de 2024, por suas ações e omissões, nesse intervalo de um ano, objetivamente nada fizeram, além de propaganda e demagogia.


Utilizaram, como prevíamos a desgraça para remoções em massa a serviço dos empreendimentos imobiliários e empresas e agora farão o mesmo.


Nenhuma atuação houve no sentido de emergencialmente proteger Casas de Bomba, reconstruir diques e limpar bueiros, nada!


A única pró-atividade de forma unificada entre a União, Estado e Município de Porto Alegre foi o Terrorismo de Estado e a perspectiva de remoções em massa como apontada de conjunto, pela União, Estado e Município de Porto Alegre, para o Arquipélago , Humaitá e Sarandi.


O dia 20 foi um dia Cinza em todos os sentidos.


Mas seguimos resistindo ao logro, infâmia e violência de Estado.




Onir Araújo

Porto Alegre, Rio Grande do Sul







As bolinhas de flores rosas de um ipê


Acordei com a pele dormente e quente do meu parceiro, a quem não vejo desde abril.


Pensei se meu sobrinho ainda era feto ou já neonato.


No marcador 3-1 do Flamengo contra o Chelsea, meus olhos se umedeceram.


Pensei no meu Rio de Janeiro e me perguntei - mais uma vez - que seria do mundo se nos organizássemos igual torcida para vencer aos malvados?


Fiz uma sopa de legumes, me lembrei da minha vó Gela.


Assistimos um filme, ainda não me acostumei com a violência bélica.


À noite fomos no parque e paramos para acariciar as bolinhas de flores rosas de um ipê que parecem alvéolos.


No Pronta, bebemos refrigerante local e entristeci com a Lucha por el Água do meu México.


Chorei de paixão, dei um beijo no Ayubi e dormi.




Ivette González Lara 

Rio de Janeiro, RJ








O Aqui e O Agora guiado por Ogum e protegido por Exu


Estou passando dias bem intensos com muitas reflexões, depois de fazer um transplante de fígado, que completa um ano agora no dia 26 de junho.


Fiz essa viagem para a Europa e estou refletindo sobre a vida, sobre estar vivo, sobre não ter feito a passagem.


E agradecendo por estar vivo e agradecendo por estar podendo viajar, encontrar meus amigos.


Vivendo realmente a vida, celebrando a vida a cada minuto, a cada momento, porque é isso que nós temos: o aqui e agora.


Esses dias eu li que nascemos num dia, vivemos num dia, e morremos em um dia, então o que a gente tem realmente é o aqui e agora.


Estou fazendo esse exercício de ficar no aqui agora nesse momento.


E chegar na cidade de Assis, na Igreja de Nossa Senhora della Pace é uma dádiva da vida e agradecendo a Deus.


Que este solstício possa trazer renovação e renascimento.


E que o mundo possa ficar em paz, sem esse barulho de guerra aqui na Europa.


Eu estou em profunda paz comigo mesmo.


Isto me basta.


Guiado por Ogum e protegido por Exu!!!


Axé!





Jarbas Rodrigues Júnior 

Assis, Itália 









Um recado da vida


Junho, para mim, é um mês de memórias afetivas intensas.


Lembrando as perdas de meu irmão, um aluno querido e uma jovem vida interrompida.


Essa reflexão constante sobre a brevidade da vida e a única certeza - a morte - sempre caminham comigo.


Para a sexta-feira, 20 de junho, meu plano era simples: descansar, um bom filme e comida caseira.


No entanto, a urgência da gripe do meu filho me levou à beira rio, em Porto Franco, para buscar o remédio.


O dia estava típico do verão tocantinense, com sol, céu azul e vento solto.


Havia no ar uma alegria sutil, uma cinestesia que sussurrava: a vida é pra ser vivida. Eu não entendi o recado de imediato.


O que era uma obrigação se transformou em encontro.


Acabei dividindo a tarde, cervejas e palavras com alguém.


O papo fluiu tão bem que não vi o tempo passar, daquelas conversas que te fazem esquecer do relógio.


E o pôr do sol esplêndido, pintando o céu com cores vibrantes, selou um dia inesperadamente alegre.


E foi, sem aviso, a reafirmação: viva intensamente.




Sara Gabriela 

Porto Franco, Maranhão








Um dia é sempre um grande acontecimento


Um dia é sempre um grande acontecimento. Já faz alguns dias que não escrevo, são tantos os motivos que não caberia aqui explicar. Então, o que dizer do dia 20/06, que parece um dia qualquer? Se cada dia é um acontecimento, então ele não pode ser apenas mais um.


Ao me encontrar escrevendo e refletindo sobre ele, sobre minhas ações, fui levado também a pensar sobre minha condição humana, sobre meus pensamentos, meus anseios, sobre o meu existir; e o nosso existir.


Senti uma carga de culpa acompanhada de decepção: culpa por não existir no Todo; decepção por permitir que isso acontecesse.


O dia, para mim, costuma começar logo cedo, mas nesta ocasião, dia 20/06, esse “cedo” foi às 10 horas. Talvez porque tenha sido um dia “livre” das obrigações, dos afazeres cotidianos. Mas “desapegar” da constante produção é uma tarefa que, ultimamente, tenho praticado.


Como já estava tarde, fui logo preparar o almoço. Nesse processo, aproveitei para assistir a um vídeo que explicava o que é o “sionismo” e como esse movimento ideológico, de base étnica, busca se consolidar como um Estado. Recomendo um grande pesquisador chamado Breno Altman. Compreender os conflitos que estão acontecendo atualmente no Oriente Médio talvez seja um dever de todos, pois o genocídio que Israel está cometendo contra o povo palestino é inumano.


Refletir sobre tudo isso é uma condição que me assola constantemente. Não há um dia sequer em que eu não busque saber a real situação da Palestina.


Há genocídios no mundo, em diversos lugares existem governos altamente armados dizimando outras populações, e isso simplesmente não chega até as pessoas.


O ódio, o terror e a morte não estão contidos, mas a desinformação está e é por isso que eles seguem, dia e noite, exterminando populações vulneráveis.


A morte tem mãos, tem rosto, tem nacionalidade, tem ideologia. Ela não é esse ser mitológico que age como uma força da natureza. Naturalizar isso é o que o sistema tem forçado a população a fazer.


Que nos espantemos com a desumanidade, esse pode ser um começo.


Desnaturalizar aquilo que não deve ser, em hipótese alguma, aceitável: o genocídio.


Todas essas reflexões fazem parte do meu dia a dia; não seria diferente no dia 20/06. No período da tarde, fiz as atividades relativas ao meu trabalho; sou professor e sempre há tarefas a realizar em um turno fora da escola.


Ao fim da tarde, fiz uma caminhada, como em todos os outros dias. Caminhar sempre me ajudou com os meus pensamentos. Ajuda também a entender a relação entre corpo e mente, que muitas vezes, seguindo uma linha de pensamento cartesiano, tentamos dividir, mas que, na verdade, é uma só coisa: o corpo é mente, e a mente é corpo.


À noite, pude descansar e assistir a um filme com minha amiga.


Para mim, pode ter sido apenas mais um dia normal, porém, em algum lugar do mundo, uma criança, um jovem, uma mulher estavam sendo mortos em um bombardeio.


Como disse: um dia é sempre um grande acontecimento.




Léo Daniel da Conceição Silva

Imperatriz, Maranhão








edição: Walter Antunes


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análise e divulgação de pensamentos, pontos de vista filosóficos, práticas
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