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  • Foto do escritorLuama Socio

A mão dançarina do olhar escuro nos desenhos de Carlós


O olhar de Carlós é alimentado desde sempre pelo pensamento crítico sobre o mundo, a sociedade, a política: “em casa era um crime não ser gauche”, diz, em meio a uma conversa sobre as dificuldades das ideias de liberdade, democracia e participação política nos tempos atuais: “a estrutura de manutenção de poder é tão complexa que confunde as posições na vida cotidiana”, desabafa, revelando que se interessa por midiativismo e por todas as questões associadas ao problema do atraso social: machismo, escravagismo, destruição ecológica etc…

Seus desenhos expressam essa liberdade inerente do ser-artista, reivindicada pela movimentação do gesto a partir de um horizonte escuro, indeterminado quanto aos seus objetivos porém reivindicando sua identidade libertária, tudo simbolizado pela potencialidade de revelação de um negro nanquim.

Ele diz que seus traços vão mais pelos caminhos do desmascaramento da forma do que pela pretensão de refletir ou construir alguma coisa bem definida. “A palavra, o desenho, não dão conta da existência”. Seu olhar é um trânsito no escuro: “a ideia de consciência é uma sombra”, declara.

O estilo de Carlós é fortemente influenciado pela técnica da gravura: “fiz muitos cursos e numa época da minha vida estive ligado a um ateliê de gravuras em Recife em que as artes plásticas eram levadas a sério”. Por fim, chega à conclusão de que o artista não passa de um “bufão da corte”.

O impulso para o desenho faz parte do simples cotidiano de Carlós. Ultimamente tem desenhado bastante as gatas que ficam por ali, rodeando à sua volta: “o desenho tem um diálogo com milhões de coisas da minha vida. Por um lado é desenho de observação no sentido de que tenho carinho pela figura, mas ao mesmo tempo tenho o cuidado e a intenção de não atingi-la.”

Esse distanciamento da figura como resultado do olhar concomitante ao gesto do desenho que, como um par, realiza uma dança com a figura, é o contraponto da rigidez do estilo-gravura da forma: “não consigo pensar no que eu capto, é a mão que guia. Não vejo o que eu gostaria de ver. Sempre me surpreendo com o meu próprio trabalho”, diz.

O trabalho de Carlós pode ser acompanhado no Instagram: @carlois www.instagram.com/carlois/

contato: carlois@gmail.com

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