top of page

Capoeira: Resistência, Cultura e Identidade Negra no Brasil

ree



Uma história de luta que resiste ao tempo

A capoeira é mais que movimento, jogo e música. Ela é memória viva da resistência negra, forjada no corpo e na ancestralidade. É também denúncia, espiritualidade, linguagem de liberdade.


Por séculos, ela resistiu às tentativas de apagamento - e segue resistindo.

E é preciso lembrar: as mulheres negras sempre estiveram presentes nessa luta, embora muitas vezes tenham sido silenciadas, invisibilizadas ou marginalizadas nas rodas e nas narrativas.


O silenciamento e o projeto de embranquecimento

Após a abolição da escravidão, o Estado brasileiro não garantiu reparações à população negra. Pelo contrário: implementou um projeto de embranquecimento que associava o progresso à branquitude e marginalizava a cultura afro-brasileira.


Manifestações como o candomblé e a capoeira foram criminalizadas. A capoeira foi considerada crime pelo Código Penal de 1890, ligada à vadiagem e à desordem. Mas mesmo com perseguição, ela sobreviveu nos corpos e na sabedoria de quem se recusava a desaparecer.


A força de quem manteve a capoeira viva

A resistência da capoeira foi possível graças a figuras que reconfiguraram seu lugar no mundo. Duas delas merecem destaque:


• Mestre Bimba, que desenvolveu o estilo Regional e abriu a primeira escola reconhecida de capoeira no Brasil;


• Mestre Pastinha, guardião da capoeira Angola, que defendeu com firmeza sua ancestralidade e filosofia. Ele afirmava que “capoeira é tudo que a boca come”, mostrando que a luta está na sobrevivência, na dignidade e na arte.


Pastinha compreendia a capoeira como educação, cultura e identidade. Sua valorização da tradição africana foi um ato político e pedagógico em um Brasil ainda racista e excludente.


A mulher na capoeira: entre silenciamento e resistência

Apesar de sua presença desde os tempos de escravidão, as mulheres na capoeira foram historicamente silenciadas. Em muitas rodas, foram proibidas de tocar berimbau, de liderar, de ensinar. Muitas aprenderam escondidas, resistiram nos bastidores, cantaram caladas.


Mas elas sempre estiveram lá. E hoje, mais do que nunca, tomam o centro da roda, tocam, cantam, ensinam, escrevem e lideram. A luta das mulheres capoeiristas é também uma luta por memória, representatividade e justiça dentro da própria cultura que ajudaram a construir.


Capoeira, educação e políticas públicas

Com a Lei 10.639/2003, tornou-se obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. A capoeira é uma ferramenta poderosa nesse processo -porque trabalha corpo, ancestralidade, oralidade, música e resistência.


Mas esse potencial só se realiza plenamente quando reconhecemos também as contribuições das mulheres negras nessa trajetória. Quando nomes como os de Mestra Janja, Mestra Nani, Mestra Gegê e tantas outras são estudadas, respeitados e inseridos na história oficial da capoeira e da educação.


Um legado vivo e feminino

A capoeira é uma prática ancestral e atual, viva em cada canto, em cada ginga, em cada corpo que resiste. Valorizar a capoeira é valorizar a história do povo negro — e reconhecer a força das mulheres que desafiaram o silêncio.


Ao lembrar de Mestre Pastinha, também devemos lembrar de todas as mestras e mulheres que, mesmo sem nome registrado, foram sementes dessa luta. Elas são vozes que agora ecoam alto, com berimbau, canto e palavra.


Axé para todas que vieram antes e para as que ainda estão por vir.



Máyra Leticia Romano 

Formada em Ciências Sociais e pós-graduada em Sociologia Política, desenvolve pesquisa sobre a presença e o papel das mulheres na capoeira.

Atuou no coletivo Mulher no Gunga, voltado à valorização do protagonismo feminino nas manifestações culturais populares.

Vivencia a capoeira tanto na prática quanto na pesquisa. Foi produtora executiva do Festival Ginga: histórias que o corpo conta, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc.


ree

ree



texto: Máyra Leticia Romano 


fotos: Pácua


Katawixi é um lugar de crítica,
análise e divulgação de pensamentos, pontos de vista filosóficos, práticas
e produtos culturais, livres de vínculos institucionais, 
concebido por
Luama Socio e Walter Antunes.
 
Katawixi é antes de tudo o nome
de um povo que flutua agora
em algum lugar na Amazônia.

copyright © 2016 - 2025 KATAWIXI

  • Instagram
  • Facebook App Icon
  • Youtube
bottom of page