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Foto do escritorWalter Antunes

Para uma vitória tranquila de Lula no segundo tempo


Fotos: Walter Antunes



Se nada de novo, para além dessas breves notas, surgir durante o tempo normal de partida, será uma vitória tranquila no segundo tempo dessa eleição.


1 Lula com quase 77 anos faz a sua parte de modo formidável. Andou o país de norte a sul com o peito e coração abertos. Construiu, dentro do que se propôs, uma frente ampla com representantes dos mais variados setores da sociedade brasileira. Com a rara inteligência e a fala de quem é um dos maiores oradores políticos da humanidade não foge do encontro, não foge do debate. Acompanhado quase sempre por pessoas com idade muito menor que a sua, Lula transmite energia e vitalidade. Ele parece o jovem desse campanha em contrapartida aos de aparência enferrujada e embolorada.

Lula fez e continua fazendo a sua parte.

2 Para muitos foi uma grande surpresa verificar-se a existência em 2022 de uma enorme militância aguerrida em tempos sombrios de conforto e acomodação cibernética. Pessoas das mais diversas idades, estudantes, trabalhadores, sem teto.

Essa militância segue dia e noite debatendo nas ruas, sabe conversar com o povo, tem alegria e simpatia e está por onde ainda existe militância: PT (sobretudo no nordeste e no norte) e os partidos de esquerda, com destaque para o PSOL e Unidade Popular nos mais variados lugares e estados, incluindo a capital paulista.

3 Toda a mídia antiga e nova, jornais, revistas, emissoras de rádio e tv, sites e canais de internet tratam a eleição como mais uma eleição, normalizam as fakenews, normalizam a mentira, colocam os candidatos dentro do mesmo paradigma como se fossem do mesmo tipo, como se tivessem a mesma história de defesa da democracia e o mesmo passado de realizações para o povo.


Até o dia do segundo turno a tendência é uma enxurrada de mentiras tanto a maquiagem dos dados da situação econômica, como destaques para mentiras e fakenews contra a candidatura de Lula, em todas essas mídias que nunca tiveram nenhum apreço pela democracia ou para com o povo brasileiro.


Não seria agora que assumiriam uma responsabilidade com a ética e verdade que não possuem, mostrando a real dimensão de quem é quem, mostrando as atrocidades e crimes do candidato do genocídio e o passado democrático e de transformações do país de Lula.

4 Abundam denúncias sobre a compra de votos e abuso do poder econômico.

Foi a tônica da eleição para os legislativos e todo o primeiro turno. As denúncias são feitas e param na pilha da justiça, sem prazo para serem apuradas. Não serão apuradas as denúncias até o final da eleição e é ingênuo supor que o movimento de compra de votos não esteja em pleno funcionamento na reta final do segundo turno.


5 O TSE prometeu com grande alarde coibir o uso das mentiras e fakenews nessa eleição, seria "diferente de 2018". Nisso o TSE admitiu que as eleições de quatro anos atrás não foram realizadas com lisura. O que é uma declaração mais de culpa do que de incapacidade.


Nesse ano não tem sido diferente, há uma estratégia de permissividade, um truque burlesco para parecer que existe combate aos criminosos: a mentira/fakenews é divulgada até a exaustão, quando a justiça eleitoral toma providências - isso quando resolve interferir diante de uma fakenews - o tempo de giro útil da própria fakenews já se esgotou, ela já foi substituída por outra, mantendo-se uma ciranda de hipocrisia quanto à fiscalização do funcionamento das redes de mentiras, difamação e calúnias.


Não são feitas prisões, não são feitos bloqueios efetivos e permanentes das estruturas e pessoas das redes criminosas de fakenews, o beneficiado pelas mentiras não paga e nem é penalizado pelos crimes.


6 A coerção, o constrangimento, a pressão brutal através do uso de mentiras e do poder econômico sobre os funcionários dentro das empresas, algo que aconteceu em 2018 e que para muitos observadores passou despercebido, está em 2022 mais forte que em qualquer eleição anterior, maior até que tudo aquilo que se vivenciou em 1989.


Além de grandes, médias e pequenas empresas, envolve fazendeiros, associações comerciais e industriais de diversos estados e municípios, além dos representantes do agronegócio. Gente que prefere ter menos lucro com a situação de destruição do poder de consumo do povo brasileiro do que ver Lula em Brasília governando novamente.


Não custa lembrar que nunca antes nem depois do governo de Lula as pessoas tiveram tanto acesso a crédito, tanta facilidade e condições para consumir.


É mesmo uma questão de ódio por princípio, se opor ao Lula, já que nunca as empresas lucraram tanto com o acesso ao consumo como no governo do PT.


A justiça novamente se omite, atuando quando muito com aplicação de multas que muitas vezes apenas são noticiadas e não têm seu cumprimento efetivo.


A forma de combate efetiva é a prisão imediata de proprietários, gerentes, chefes de departamento, qualquer pessoa que use seu poder econômico ou cargo para oprimir o trabalhador com ameaças de desemprego se estes trabalhadores não elegerem o candidato do patrão.


As mesmas prisões dos criminosos das fakenews que não acontecem, continuam não sendo feitas nesses casos de coerção de patrões contra empregados, o mesmo se dá em relação ao terrorismo empresarial das notas e comunicados de empresas aos seus fornecedores sobre paralisação das atividades em caso de vitória de Lula. Terrorismo dos patrões e empresas contra o povo.


Surpreende a pouca aparição e força efetiva, a falta de protagonismo e liderança dos sindicatos dos trabalhadores em toda a eleição de uma forma geral, algo que se arrasta desde 2016.


7 No primeiro turno das eleições de 2022 aconteceu o segundo maior locaute de transporte público da história do país. O maior locaute está por acontecer no segundo turno. Empresas grandes com suas frotas de ônibus, autônomos e pequenas empresas que fazem transporte em vans em regiões carentes de transporte público sobretudo no norte, nordeste e nas periferias das grandes cidades do sul e do sudeste, boicotam o voto daqueles que dependem de condução pública para se locomover até o local da votação e exercer o direito do voto, um dos pucos direitos que ainda restam ao cidadão. O perfil predominante desse eleitor em todas as pesquisas indica voto em Lula. O locaute é mais um crime impune cometido contra a democracia.

8 No universo religioso o aprofundamento do voto de cabresto se dá a cada eleição, 2022 segue a tendência. Seja através de fakenews ou pregações com citações deturpadas de textos bíblicos, a tendência se confirma a cada nova votação.


O cabresto não se dá apenas nas grandes organizações que se auto-denominam como igrejas, aquelas já altamente conhecidas da sociedade brasileira que possuem líderes cobertos de denúncias sobre comprovados e reiterados crimes, há também uma pulverização por todo o país de pequenos espaços de reunião, cada um com seu auto-proclamado "líder espiritual" que em via de regra segue e imita os clássicos exemplos de sucesso dos “empreendedores das igrejas" mais famosas.


A sociedade brasileira assiste a esse avanço perigoso completamente calada desde no mínimo os anos 1960. Assiste a uma imensa multidão que por falta de inserção ou acolhimento na sociedade se entrega ao cabresto de locais e pessoas inescrupulosas que acabam se valendo da gente crédula por atender, sob o pretexto religioso, as necessidades de socialização desse povo quase sempre humilde, o que não deixa de ser um clube onde se pode cantar, dançar, participar, ser ouvido, se fazer sentir representado, mesmo que, como em todo clube, haja o pagamento das mensalidades, disfarçadas sob o nome de dízimo.


Muitos políticos e partidos ao longo das últimas décadas, ao contrário do diálogo direto com o povo através de políticas públicas de participação, optaram por negociar com os grandes operadores dessas organizações em busca do voto em atacado em tempo de eleição.


Muitos desses frequentadores dos “espaços de fé” acreditam no que lhes é dito e se regozijam em pensar que são os privilegiados escolhidos para participarem do apocalipse. Para que esse apocalipse possa acontecer, não medem esforços em contribuir para a destruição e o caos, isso inclui, claro, o voto de cada um deles.

Esse território “religioso” está mais uma vez completamente perdido para esta votação, justo esta eleição que se revela tão absurdamente definidora da sobrevivência do Brasil enquanto projeto de nação em contraponto ao serviço feito ao longo dos últimos seis anos que se apressa em transformar definitivamente o país num mero fragmento de colônia.


Esse território dos “líderes espirituais”, que se não for visitado com extrema profundidade e seriedade por toda a sociedade brasileira, num futuro breve acabará por promover a destruição do país que ainda se tenta evitar neste momento de 2022.


9 A pesquisa não é a pandemia, a pandemia não é a pesquisa. O genocídio, sem outra palavra, o genocídio imposto ao povo brasileiro pelo governo, impactou pesquisas.


Sabemos que pesquisas não erram. Algumas podem ser manipuladas, quando muito, se distantes de um momento de votação são lançadas como balão de ensaio, mas cada vez menos há manipulação de dados quando se avizinha o resultado das urnas. Então se a eleição fosse em 2021 Lula ou qualquer outro derrotaria o ocupante do cargo de Brasília.


Mas a normalização da vida, seja por instinto de sobrevivência e desespero por se seguir em frente, seja por um grande mecanismo de propaganda da máquina "secreta e internacional dominadora de mentes”, a normalização da pandemia normalizou o genocídio.


Depois a normalização fez esquecer do genocídio.


A normalização apagou o sofrimento, a dor, a indignação, a revolta, a memória.


Então a pesquisa, que não é a da pandemia, em nenhum momento desde o início da campanha eleitoral garantiu vitória de Lula no primeiro turno.


As pesquisas, que não são mesmo da pandemia, vão trazer até o dia do segundo turno uma diferença cada vez menor entre as candidaturas chanceladas pelo povo brasileiro e as suas instituições, vão provavelmente apresentar empate técnico na véspera da votação.


Esse é o grande risco que um povo corre ao permitir que as coisas sejam normalizadas, estancadas, esquecidas: a dor, a revolta, a consciência.


Então os milhões de mortos e sequelados, normalizados e esquecidos, não são argumentos que tocam nem o eleitor, nem a pesquisa, que não é mais a pesquisa da pandemia.


Estes são os mortos. Não são os 30 milhões de brasileiros que estão passando fome, estes sempre foram e sempre serão invisíveis ao eleitor e às pesquisas.



10 O Brasil “um país para todos” de Lula não deu certo, não por falta de vontade e convicção de Lula no seu ideal de projeto, mas pelo encastelamento de cada um em sua posição de um jogo primitivo de exploração.


Os exploradores das riquezas da terra e do trabalho alheio não se deram por contentes com a estabilidade do país e o aumento da sua própria riqueza. Sempre é bom lembrar que os que mais se beneficiaram com o governo do PT foram os que acumulam riquezas neste país.


O desvalido, o trabalhador, aquele que nunca teve nada, inegavelmente teve inumeráveis formas de acesso a uma vida melhor em todos os aspectos, desde a entrada na universidade, passando pela saúde, alimentação, grande melhora na sua qualidade de vida, mas quem mais lucrou e guardou esse lucro com a enorme roda aquecida do consumo, foi aquele que nunca abandona sua posição de senhor das terras do Brasil, aquele que sempre vê uma árvore como algo a ser derrubado para seu lucro.


Que nada é suficiente para os mandatários, isso é uma lição sabida, o surpreendente na história foi o passivo recolhimento do explorado para o lugar e papel a ele sempre destinado “é a parte que te cabe neste latfúndio”. Como se tivesse vivido um tempo bom não por ele conquistado, mas proporcionado por um estado que então podia retirar com direito tudo o que lhe pareceu brevemente dado. A não mobilização deste povo em defesa de uma legítima presidenta Dilma contra o golpe brutal e vergonhoso é a prova inconteste desse recolhimento da população.


Não foi uma falta de sorte o Brasil viver durante a pandemia sob um anunciado genocida no poder, foi a escolha deste país.


E é essa ideia de “Brasil feliz de novo”, “um país para todos” a principal promessa de Lula neste trágico momento do país. Lula fala ao povo sobre a volta de um tempo e um Brasil que esse mesmo povo não lutou para que continuasse existindo, presente dado, presente retirado.

11 A militância de internet ou o ser que habita a internet, parece cada vez mais distante da realidade do país e do povo. Às vezes parece mesmo apenas habitar as redes sociais.


Produzindo e replicando todo tipo de opinião sobre qualquer assunto, com veemência e autoridade caricatural, salta de um tema a outro com propriedade de especialista, produz um amontoado gigantesco de memes, domina a cena da própria bolha e no momento seguinte descarta o tema sem nenhum pudor, sem aprofundamento de qualquer debate, sem responsabilidade sobre o mundo.


Desde 2015, pelo menos, produziram as mais variadas hashtags e memes como "não vai ter golpe", "fica Dilma", “fora vice-vampiro”, “elenão”, "ninguém larga a mão de ninguém", todas inócuas em dialogar com a realidade do país e todas fracassadas, além da quantidade infindável de clipezinhos e lives de gente falando ao próprio umbigo.


No final ninguém larga a mão de ninguém apenas na rede social, mesmo que a pessoa morra, se mantém a mesma como seguidora para se ter número. O que importa é a quantidade de likes e o prestígio junto a sabe-se lá o que.


A possibilidade de falar para fora da bolha cada vez mais parece não ser uma incapacidade momentânea, mas uma total impossibilidade física. Cada vez mais essa militância cibernética ou seres que habitam a internet, parece não conhecer mesmo ninguém do povo, não saber a sua linguagem, não saber fazer o "link", a ponte. Parecem estar vivendo dentro de um videogame ou num laboratório que realiza testes com ratinhos. Costumam quase sempre atribuir os insucessos à conjuntura internacional. Pena que segundo a lógica deles, apenas o que é ruim tem efeito no Brasil. Nunca os avanços positivos da tal conjuntura mundial chegam ao país.

Ainda assim se mantêm firmes no seu papel de tribunal que julga e executa a sentença, como tão bem explicou Tom Zé.


Os que usavam a hashtag "com supremo, com tudo", agora tratam em suas postagens, por apelidos carinhosos, membros daquela corte, já por eles transformados em super-heróis.


Julgaram e sentenciaram Ciro Gomes, e por consequência seus eleitores, com um rigor nunca utilizado em relação a notórios golpistas da presidenta Dilma, golpistas que agora integram a frente ampla pró-Lula.


Executaram toda e qualquer candidatura de esquerda que ousou não estar com Lula no primeiro turno, quando todos sabiam ser impossível a definição já em primeiro turno, pela polarização contida, estimulada, na própria proposta de se eleger Lula no primeiro turno.


Essa militância cibernética, entre outras coisas que beiram o surreal, acreditou que a pandemia tinha resolvido para o país a questão de qual seria o eleito em 2022, apostando em altíssimas taxas de rejeição que simplesmente se dissolveram.

Nota-se também que boa parte da chamada mídia independente tem cada vez mais enveredado por esse caminho do jogo-debate inócuo da turma cibernética.


Uma espécie nova de gente a ser estudada que quase nunca favorece a democracia e o avanço de nada do país, mas que tem e exerce potencial destruidor de pessoas e vidas.


Tem-se a impressão que tudo parece apenas um jogo para essas pessoas, um preenchimento de formulário cibernético de cada rede social.


Impressão de que, independente do resultado do dia 30, ficarão pelo resto da vida produzindo e replicando memes como “agora é resiliência e aguentar mais quatro anos”.


O Ódio

Há um ódio permanente na população brasileira, sempre esteve disfarçado pelo sorriso e uma cordialidade superficial, mas esse ódio estava ali desde 1500, pulsante e latente, esperando a hora para emergir. As novas tecnologias de comunicação, a internet, o pseudo-empoderamento podem ter contribuído para trazer à tona todo esse ódio, mas não o criaram.


O punitivismo cego, a intolerância, o egoísmo, a vontade permanente de ver alguém no banco dos réus, o desejo pelo açoite e pela chibata cobrindo a pele ensanguentada do outro, do vizinho ou de quem quer que seja, sempre esteve presente e impossível de não ser constatada por um andarilho atento desta terra de berço esplêndido.


Se isso tem origem numa colonização de exploração que nunca foi vista para se criar um verdadeiro lar pelos brasileiros, mas apenas um lugar para se dar bem a qualquer custo e depois cair fora para alguma metrópole de outro continente, se isso nasceu com a sequência de séculos de grandes injustiças e concentração de renda, se tudo isso aparece por conta de uma história mal contada que traz um herdeiro do trono português como libertador, um general do imperador como inaugurador da República, aristocratas da velha república "derrubando a corrupção" da velha república em 1930 ou se isso nasceu de uma Lei Áurea que não liberta, pouco importa nesse momento.

Agora pouco importa de onde veio todo esse ódio.


Quando Lula foi eleito em 2002, fiquei com a impressão de que um dia o povo no Brasil iria querer vê-lo na cadeia, não importa o pretexto, mas pela ousadia de desafiar o rito perpétuo estabelecido nessa colônia do explorador e explorado.


Em 2010 quando Lula tinha 90% de aprovação popular, tive de novo a mesma sensação e pressentimento: ele teria que pagar por mexer tanto nas coisas e permitir ao explorado sonhar, teria que pagar não apenas pelo ódio do explorador, mas também pelo ódio raivoso e inconsciente do explorado que não se permite ver noutro espaço que não o do miserável a quem nada cabe, além da chibata e da exploração.


Infelizmente minha percepção estava correta.


Esse eleitorado cheio de ódio é quem vai decidir através da rejeição, a eleição e o destino do Brasil.


Esse eleitorado cheio de ódio armazenado e alimentado ao longo dos 522 anos de Brasil parece insensível e intocável por qualquer argumento, fato, prova.


Sem liberdade.


Sem igualdade.


Sem fraternidade.


Nenhum argumento ou prova toca seu coração ou a sua mente: nem racional, nem científico, nem verdadeiramente religioso ou moral, nem instintivo de sobrevivência animal, muito menos espiritual.


Não! Amor não é uma palavra que ele conheça.

Amor no Brasil só o Amor do Índio.






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