A pintura de Neuza Ladeira impressiona pelo contraste entre tons sombrios e maduros e o frescor das formas florais de paisagens e pessoas conjugadas a pequenas belezas da vida.
A atmosfera nublada de alguns dos seus quadros reflete talvez a sua história de horror político. Ela diz: "fui prisioneira com 20 anos e saí 2 anos depois. Fui muito torturada e fiquei um tanto alienada. Só em 2009 voltei a ser eu".
Quinta-feira, 5 de janeiro de 2023
Daqui a 2 dias faço 74 anos, mas me sinto com 90. Tenho uma dor diária que me consome e só dá tristeza.
Não consigo pintar e nem escrever estou no limbo!
Mas mesmo assim amo as flores e suas cores, amo a diversidade, amo a liberdade, o amor...
Apesar do absurdo que me habita, reparo o mundo, as guerras insanas, o homem do planeta com suas diferenças e coincidências.
Tenho momentos de alegria e felicidade, mas o tempo maior é de suspiro.
A minha vida foi conturbada, aos vinte estava prisioneira da Ditadura Militar saí 2 anos depois e devido às torturas fiquei alienada.
Recobrei a consciência e me sinto mais em paz.
Espero que esses 74 anos me suavize da visão que terei do mundo e da vida vivida.
Pintora, mas também poeta, Neuza Ladeira passou a infância em Manhuaçu, Minas Gerais, e mora em Belo Horizonte desde 1964, cidade onde nasceu em 9 de março de 1950.
"A poesia surgiu primeiro, adorava ir num sarau. A cidade que morava de vez em quando tinha esses eventos, sempre na casa de algum poeta. O tempo todo sonhava com poesia, tudo no pensamento. A pintura surgiu no ano 2000. Um dia andando na cidade resolvi comprar tinta, pincéis e papel e comecei, e pintei muito".
Segunda-feira, 7 de março de 2022
Algo mudou
Centrou
Uma flor
Perfumada
Rosada
No meio do mundo.
Suas pinceladas grossas combinam-se com a especificidade de sua visão física e com certo ponto de vista psicológico sobre si. Neuza explica que tem 8 graus de miopia e que "atualmente sinto que sou mais uma na multidão".
"Não me considero nem mais poeta, nem mais pintora. Convivo bem com as duas. A hora de cada uma é sagrada".
Quinta-feira, 5 de janeiro de 2023
Eu aproveitei os dias chuvosos e chorei
chorei pelas guerras, pelas injustiças
chorei pelas ambições, invasão de territórios
matar violentamente
chorei pelas minhas mãos atadas
boca muda, rigidez muscular
pela minha insônia secular
chorei pela fome, de tristeza
sabendo que o mundo está virado.
Para Neuza Ladeira "arte é a subjetividade. Tem a função estética e educacional. É tudo de belo e livre". Gosta sobretudo de Van Gogh e Picasso: "o primeiro pelas cores e o segundo por sua imaginação".
Segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021
Sou linha texturas tecidas
No âmago do tempo tecendo as fibras
Fabricando o tecido
Sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019
Só reparo as horas abertas
Do relógio murmurando
Velozmente os minutos
As horas
Sábado, 18 de fevereiro de 2023
Alma seca delicada onde o orvalhar é temporário.
Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023
Elas amam o papai
Mas ele é a alegria da casa
Com aqueles olhinhos risonhos
Sagitariano e seu humor cáustico
Tenho um rosário contra ele
Mas elas o amam
Então me calo e observo este amor.
Segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
O caracol repete
Em sua concha
A rotina diária
Do introspectivo.
Sábado, 12 de fevereiro de 2022
A Caravana
Somos viajantes em curso
A paz está aqui só que não vemos
Alegres ou tristes como um grande lago
Ilimitados sussurrando baixinho
Recolhendo as correntezas e vicissitudes da vida
Abundantes perturbados altivos vergados
Caldeirões de impulsos ora alto ora baixo
Devoradores da opressão do progresso gradual
Penetração encontro reunião
Diminuição dilatação
No insondável na duração na retirada.
Saiba mais sobre Neuza Ladeira:
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